quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Estava guardando o texto na vã idéia de envelhecê-lo em tonel de carvalho e, com isso, torná-lo apto para consumo. Mas como o Lessa adiantou a pauta, com direito a exagerados elogios, inclusive já lançando mão do texto, convém fazer coro.
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GOLEIRO NÃO PODE FALHAR



Seria um golaço. Desses de cobertura de trás do centrocampo.

Mas acabou sendo mais um milagre de São Lessa, que naquele dia estava especialmente inspirado e até já marcara ele mesmo um gol.

Como fui eu quem chutou a gol, no lance capital, sei de detalhes que provavelmente ninguém viu.

Naquele átimo de segundo em que o atacante levanta a cabeça para o gol, logo antes do arremate, vi os olhos do Lessa vidrados em mim e na bola. Já corria para o gol, meio de lado para conseguir me olhar. Foi um daqueles olhares que parece dizer: vou defender! Pode chutar que eu vou pegar!

Coloquei a bola por cima, que ganhou destino certo e repito, seria gol.

Mas, qual um gato trepando num muro alto, o arqueiro se atirou na bola.

Meio de costas. Puro instinto.

Como se fosse o último chute do mundo, sacrificou-se para evitar o gol.

Pena que se machucou. Era lance para ser celebrado e lembrado. Até com uma placa.
Se há gol de placa, certamente há de existir defesa de placa.

O lance reafirma a certeza que somente o goleiro disposto a se ferir é capaz de operar milagres.

domingo, 16 de setembro de 2007

Ainda sobre a cínica absolvição de Renan.

A lição de Montesquieu é antiga, mas atual: "Os interesses particulares fazem com que facilmente se esqueçam os que são públicos".

Impressiona que, numa democracia que pretende ser respeitada como tal, existam sessões secretas no Parlamento. A Constituição da República prevê uma única hipótese de sessão secreta, mas não para julgamento de cassação de mandato. Salvo melhor juízo, são situações em que estejam envolvidas questões de segurança nacional, em que o sigilo seja necessário.

Percebam que não me refiro ao voto secreto, que, muito embora previsto na Constituição, é outra excrescência que impede que a REPRESENTATIVIDADE seja a marca da atuação parlamentar.

A designação de sessão secreta no parlamento, sem previsão na Carta Política, especialmente num momento politicamente grave, é uma demonstração inequívoca de que há algo a ser escondido. Do contrário o processo poderia ter ocorrido em praça pública.

E assombra saber que, mesmo com o voto secreto, numa sessão secreta, houve seis abstenções. O comprometimento é tão grande entre os parlamentares que o sujeito, mesmo protegido pelo mais absoluto sigilo, se recusa a optar.

O mais triste é ver o PT se prestar a esse sujo papel de proteger, defender e absolver Renan Calheiros.

O mensalão venceu a esperança.